Agruras de emigrante
- Alma que arde - 20 Outubro, 2017
- Um dia improvável - 20 Setembro, 2017
- O “galo” do vizinho - 11 Julho, 2016
Deixei Portugal há 4 anos para entrar em Macau um dia depois. Aquela longa viagem dá para tudo. Mesmo aqueles que nunca tiveram tempo para pensar sobre si, deviam comprar um bilhete de avião para a China. O percurso é tão longo que dá para tudo. Menos para voltar para trás.
Aqui encontrei velhos amigos e fiz novos. Uma nova família, chamam-lhe. De facto, são os novos amigos que nos levam pela mão nas alturas mais difíceis. São aqueles que dizem que as saudades passam, e que nos aconselham a escolher um hobby.
Em 2015 nasceu a minha filha. “So far, so good”, sempre bem disposta, e nunca tive o azar de ter ficado doente. Até ao dia em que completava exactamente quatro anos de Macau. A pequena resolveu estampar-se, na sua louca velocidade de descobrir tudo e o coração de mãe inexperiente partiu-se em mil bocados.
Telefonámos à mãe, ao tio, à avó, ao passarinho e a todos os que pudessem ajudar. São estes os momentos em que a distância não atenua nem perdoa. Correria de médicos, três mil opiniões e o sorriso da bebé.
Emigrar não é para fracos. E não é pêra doce. Sempre que voltamos a casa e somos quase como estranhos na pequena terra que nos viu nascer. E depois há isto. E a esperança de que tudo vai voltar ao normal. E vai, mas sem a ajuda dos pilares.
Texto curto mas certeiro e de grande sensibilidade. O primeiro parágrafo é delicioso , na profundidade e na angústia que transmite. Brava Susana.