Crianças nas touradas… já!
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Quando olhamos à nossa volta e são tantas as crianças que vemos a passar dificuldades, a serem maltratadas, subjugadas e exploradas, perguntamo-nos se efectivamente nos devemos preocupar assim tanto com as touradas. Pelo menos eu pergunto-me.
Quando nos deparamos com o trabalho infantil, camuflado ou não, que ainda persiste no nosso país, o que fazemos? Absolutamente nada.
Quando nos entram crianças diariamente em casa, através de spots publicitários ou em novelas, o que fazemos? Absolutamente nada. Terão todas elas os seus direitos salvaguardados?
O que dizer das crianças que são afastadas das suas casas, das suas famílias, em prol de uma carreira futebolística? Terão todas elas os seus direitos salvaguardados?
Que mundo hipócrita é este que julga o que é ou não de valorizar e preservar, mediante gostos pessoais, ou antes, mediante interesses pessoais? Um mundo onde ora se fecha ou abre os olhos a cada uma das situações, mediante o proveito ou mediatismo que possamos vir a ter?
Quando olho para as nossas crianças completamente dependentes de jogos electrónicos, computadores e tablets, sem noção de brincadeira, criatividade e imaginação, só me apetece gritar e bem alto: “crianças nas touradas…já”.
Cresci a gostar de touros e touradas. Da festa brava. A banda a tocar. Os fatos brilhantes a desfilarem na arena. Os cavalos e cavaleiros. Os homens corajosos da jaqueta e cinta apertada.
Cresci a gritar “olé”, a bater palmas de pé e a silenciar-me quando a faena o exigia. Cresci.
Não maltrato os animais, não instigo à violência nem sou antissocial (pelo menos não sempre). E os traumas que tenho arranjei-os todos fora da praça de touros, longe dos touros, ao longo da caminhada em que me fui cruzando com outras pessoas e outras lides.
Porque numa tourada aprendemos a respeitar o touro. Aprendemos a respeitar a arte de tourear. Aprendemos a sentir orgulho e humildade. Respiramos cultura e tradição. Sentimos com o coração. Sentimos na pele.
Que todas as crianças cresçam a aprender a respeitar o que quer que seja, a sentir orgulho e humildade. Que todas as crianças respirem arte e cultura, seja ela qual for. Que todas as crianças, num dia das suas vidas, sintam com o coração. Sintam na pele o verdadeiro sentido da palavra paixão. Tradição.
E que um dia eu não sinta esta necessidade urgente de gritar bem alto: “crianças nas touradas… já!”.
Fotografia de Helder Bento
Felizmente à pessoas com opinião contrária a este artigo, e pelo que vemos de ano para ano, são cada vez mais 🙂
“perguntamo-nos se efectivamente nos devemos preocupar assim tanto com as touradas. Pelo menos eu pergunto-me.”
Tem razão, em vez de preocupar e lutar contra a questão de as crianças não poderem assistir a touradas, devia empenhar melhor o tempo a combater “olhamos à nossa volta e são tantas as crianças que vemos a passar dificuldades”.