O caminho faz-se… acessível!

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“Um dia em cadeira de rodas”

No sábado passado, a  MITHÓS – Histórias Exemplares – Associação Apoio à Multideficiência, em parceria com a PSP, levou a cabo uma acção de sensibilização para os obstáculos que as pessoas com mobilidade reduzida enfrentam todos os dias. Esta acção teve como objectivo proporcionar aos participantes uma nova experiência, percorrendo a cidade de Vila Franca de Xira numa cadeira de rodas e assinalando os pontos críticos em acessibilidade. 

Foram convidadas, pela MITHÓS, para esta iniciativa, várias entidades ligadas à autarquia e ao município para que verificassem in loco os obstáculos a uma circulação livre e independente pelas ruas da cidade. Destas entidades convidadas apenas estiveram presentes o presidente da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira, Mário Calado e Isabel Barbosa, pertencente à mesma entidade. Os responsáveis da freguesia puderam, efectivamente, aperceber-se das dificuldades vividas pelas pessoas com mobilidade reduzida, já que o presidente da Junta conduziu uma amiga em cadeira de rodas e Isabel Barbosa seguiu com um carrinho de bebé durante o percurso, concretizando, assim, a finalidade da acção de sensibilização.

No final do passeio, Mário Calado afirmou que a Junta de Freguesia iria fazer o possível por resolver alguns dos problemas de acessibilidade registados durante este passeio e que estava a pensar fazer, na terça-feira, “uma pequenina intervenção na Assembleia Municipal a propósito desta jornada”; garantiu, ainda, que resolveria, tão rápido quanto possível e, até dia 4 de Outubro, dia de eleições legislativas, o problema de acessibilidade do Ateneu Artístico Vilafranquense que dificulta a entrada de pessoas com mobilidade reduzida no local onde se encontram as mesas de voto.

A experiência contou com o apoio da Polícia de Segurança Pública que acompanhou os participantes durante todo o percurso e auxiliou o grupo na deslocação pela cidade. A PSP forneceu, também, balões e multas simbólicas para que os participantes assinalassem os obstáculos e as irregularidades no estacionamento dos veículos que estivessem a impedir a passagem de pessoas com mobilidade reduzida, tanto as que se deslocavam em cadeira de rodas ou scooters como as que seguiam com carrinhos de bebé.

A empresa Ortobest apoiou a iniciativa com a disponibilização de oito cadeiras de rodas a quem quisesse experimentar deslocar-se desta forma.

O percurso começou na sede da MITHÓS e seguiu pela Estação de Comboios e Centro de Saúde, passando pela Junta de Freguesia, para depois regressar pela Câmara Municipal até à sede da Mithós.

*Fotografias de Helder Bento

A experiência do Gaibéu

O Gaibéu, que quis experimentar seguir em cadeira de rodas por Vila Franca, num primeiro impulso saltou para a cadeira, mas a força nos braços, a rapidez e a agilidade na condução não foram suficientes para fazer todo o percurso desta forma, por isso optou por empurrar a cadeira pela cidade, tendo-lhe instalado uma pequena câmara que registasse os obstáculos enfrentados a fim de os assinalar através de imagens.

Apesar da vida mais facilitada, o caminho não se mostrou nada acessível. As barreiras foram várias e impediram-nos a passagem por diversas vezes. Desde uns míseros centímetros de desnível entre uma passadeira e o passeio que se tornaram quase paredes intransponíveis até rampas inúteis porque demasiado inclinadas, entradas impossíveis em edifícios, o uso de calçada portuguesa nos passeios, ruas intransitáveis tanto em cadeira de rodas como em scooters por ausência de rampas de acesso aos passeios e caixas de multibanco demasiado altas, apareceu-nos de tudo.

Esta experiência mostrou que estar preso a uma cadeira de rodas, nas condições em que as ruas são apresentadas actualmente, é, de facto, estar preso. Este facto podia ser muito menos limitador se houvesse uma real preocupação em garantir a acessibilidade das ruas e edifícios a todos os que nelas circulam.

Sérgio Lopes, responsável pelo Gabinete de Acessibilidade da MITHÓS, explicou que há falhas de acessibilidade fáceis de colmatar que melhorariam muito a qualidade de vida das pessoas que circulam em cadeiras de rodas, mas que para isso seria necessário que as pessoas que autorizam as alterações que tornariam os edifícios acessíveis não colocassem entraves a essas mesmas alterações e, acrescentou que, em muitos casos, o facto das obras não se realizarem não está relacionado com a falta de verbas, como se pode ser levado a crer à partida.

Durante o percurso, o Gaibéu pôde constatar que a falta de acessibilidade não se limita à questão de não se poder entrar e/ou frequentar determinados edifícios, ela é, também e essencialmente, uma questão de discriminação e segregação social que isola seres humanos que, por não transitarem sobre as duas pernas, se vêem limitados, não só no espaço, mas também no tempo, na independência, nas relações sociais e em tudo em que se vêem prejudicados pela ausência, a demora ou a incapacidade de experimentar e usufruir de determinadas vivências.

Esta caminhada levou-nos, ainda, a verificar que as barreiras que impedem a entrada de pessoas com mobilidade reduzida em edifícios e sua livre circulação na via pública são, de facto, arquitectónicas, mas são, fundamentalmente, de inconsciência ou ignorância face à diferença, por quem arquitecta ou decide a construção das infraestruturas.

Observe alguns obstáculos, no vídeo abaixo, que se atravessaram no caminho do Gaibéu durante esta jornada:

 

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6 thoughts on “O caminho faz-se… acessível!

  • 12 Abril, 2016 at 11:39
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    Excelente artigo e filme!

  • 29 Setembro, 2015 at 14:32
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    Excelente artigo, tenho esperança que um dia o Gaibéus alcance uma faixa mais alargada da população, precisamos de órgãos de informação realmente interessados nos problemas do dia a dia das populações mais desfavorecidas. Estão de parabéns não só pelo tema, pela forma clara em que é redigida assim como pelas fotos com a qualidade a que já nos habituaram…continuem, nós agradecemos
    Helena

    • 1 Outubro, 2015 at 0:02
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      Obrigada pelo comentário, Helena!
      Também desejamos que o Gaibéu cresça e que seja das pessoas para as pessoas, não só das mais desfavorecidas, mas especialmente dessas a quem geralmente não dão voz.

  • 29 Setembro, 2015 at 13:16
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    Excelente trabalho a todos os níveis do Gaibéu! Obrigada!

    • 1 Outubro, 2015 at 0:03
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      Obrigada pelo comentário, Mafalda!

  • 29 Setembro, 2015 at 13:16
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    Como vontades e gestos tão simples podem melhorar a vida das pessoas. De facto as maiores barreiras estão nas mentes e corações de quem projecta as acessibilidades no nosso país…depois do mal feito pouco há a fazer…um pedido de desculpas substitui momentos de vida de muitas pessoas! Sinto me envergonhada e impotente…

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